quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Poliandria e seu significado

Li esse texto quando pesquisava sobre costumes sociais e sua criação ou surgimento. A cultura da monogamia surge com a idéia de herança do patrimônio, alguns acreditam que o surgimento da monogamia está atrelado ao cristianismo. Achei o tema polêmico e muito diverso dos costumes ocidentais principalmente em relação à Poliandria, que é a poligamia feminina. É um assunto polêmico e quase nunca abordado por essas bandas, mas vale a pena conhecer...

Mulheres Indianas e a POLIANDRIA.

Elas nunca foram a uma grande cidade, não conhecem televisão, nem geladeira e, para elas, ter vários maridos é coisa muito natural. Nas montanhas do Himalaia, norte da Índia, na fronteira com o Tibet, o cinegrafista Hélio Alvarez e Ana Paula Padrão encontraram as pequenas vilas onde moram as mulheres poliândricas.



A poliandria é um costume, hoje, muito raro, que para nós é muito estranho, mas que funciona bem na região do Himalaia. Você vai ver que as poliândricas nem são tão iferentes assim.
Champalín pode dizer que é uma mulher de sorte. Nasceu bela, formou uma família feliz. Aos 28 anos, tem quatro filhos saudáveis e três maridos: Chamlalah, Premlah e Seamrah.
"Todos eles cuidam de mim e das crianças, é muito bom quando se tem tanto trabalho no campo", diz ela.
A história de Champalín não surpreende ninguém na região. É mais uma das tantas diferenças que cimentam a homogeneidade do país. Parece incoerente, mas a principal característica deste povo é justamente sua pluralidade.
São tantos níveis sociais e é tal a complexidade religiosa e étnica que o outro é sempre um disparate pra nós. Eu mesma cheguei na comunidade acreditando que a extrema submissão feminina explicasse casos como o de Champalín, mas a história é bem diferente.
Nas montanhas do Himalaia, extremo norte da Índia, bem perto do Tibet, o país que se apresenta é mais uma face do insólito indiano. Nas pequenas vilas espalhadas pelas montanhas - vilas muito pobres, muito isoladas - a sobrevivência das famílias justifica um costume raro no mundo inteiro: a poliandria.
As cidadezinhas poliândricas lembram vilas medievais. Nas casas, todas iguais, de madeira, onde o milho é pendurado pra secar, vivem todos juntos. Famílias imensas, que se formam a partir do casamento de uma mulher com vários homens ao mesmo tempo. Em geral, irmãos.
Baladêi casou-se com Malen e o irmão, que hoje está na cidade para as compras do mês. "Eu e meu irmão somos tão unidos que podemos ter a mesma esposa e os mesmos filhos", diz ele com naturalidade.
A família vive com os pais dos noivos, que já dividiam o lugar com os avós e alguns dos netos e assim as casas vão ficando cheias. Na hora de dormir, todos vão para o andar de baixo, o mais quente e protegido -- e todos juntos.
O casamento mais comum é aquele no qual o noivo escolhe a noiva e, depois, leva os irmãos mais novos com ele. É o caso de Rudarsín, que tinha quatro irmãos.
"Eu me casei com a minha escolhida, porque sou o cabeça da família. No dia seguinte os irmãos puderam vir para minha casa nova".
Mas, nesse caso, a noiva, Monbedí, também levou a irmã mais nova. Era um casamento de duas mulheres com cinco maridos. Estão todos lá, nas fotos da parede. Juntos, tiveram nove filhos, mas a família já ficou menor. A irmã de Momdebí e três dos irmãos de Rudarsín morreram. Os que ficaram lembram-se com saudades dos tempos de casa lotada.
"Todos ficavam juntos e economicamente estávamos mais seguros, pois não tivemos que dividir a terra e os bens".
Hoje os tempos são outros nas vilas poliândricas do Himalaia indiano. Algumas das mulheres mais jovens, desejosas de viver o amor indivisível e romântico da cultura ocidental, não querem mais ter vários maridos.
"Muitos maridos dão muito trabalho", imagina Minatiráua, de dezessete anos.
Ela sonha com uma casa onde apenas ela e o marido possam construir uma família mais parecida com qualquer outra no resto do mundo. Uma bobagem juvenil, diz Golkul.
Ele nos conta da grande festa de casamento que parou a vila no dia em que ele e seus dois irmãos casaram-se com Savitri. "Hoje já há irmãos se casando com mulheres diferentes e eles têm que ir morar em lugares distantes pra conseguir trabalho - o individualismo cresceu", lamenta Golkul.
Ele aprendeu que não dividindo a família todos garantem a própria segurança. As crianças, nas vilas, ainda são criadas por todos e nunca sabem quem é "o" papai. Algumas têm dois pais, outras três, quatro, ou cinco e não importa muito. Importante é a comunidade.
O trabalho começa cedo e ainda é preciso ajudar na velhice. As mulheres cuidam dos animais e da terra, tarefas pesadas, sim, mas são os homens que enfrentam as longas viagens em busca do que falta no isolamento das montanhas, lutam quando é preciso defender a vila e cuidam da manutenção das casas no rigor do inverno.
Por isso, lavar, tratar o rebanho, cozinhar, pra elas é o lado prazeroso das tarefas domésticas e ainda há tempo para as vaidades femininas, mas esqueça o conceito ocidental de roupas elegantes, feitas pra encantar e seduzir. As jovens da vila mostram, na prática, o que é ser bem vestida.
Pra elas, na vila poliândrica, é muito bom ser mulher e ainda mais quando há tantos homens pra cuidar de cada uma, coisa que não existe em nenhum outro lugar, ensinam as poliândricas.
É, pelos depoimentos delas, casar com vários homens não é sacrifício nenhum. Depois de muita conversa e de vencer as barreiras da cultura, descobrimos os segredinhos de um poli-casamento feliz.
Cada uma delas acaba escolhendo seu marido preferido e os outros têm que se esforçar pra conseguir um tratamento especial. Champalín confessa, enrubescida, na frente dos outros: "Este é o meu preferido".
E por quê? Pergunto eu. O que ele tem de diferente? “Ora”, desconversa ela, "assim como os dedos da mão, os irmãos também não são iguais".
Mondebí, aquela que já teve cinco maridos, quase em segredo, aponta pra mim aquele de que sempre gostou mais e ele sorri o sorriso de quem sabe que teve lugar especial no coração da esposa.