sexta-feira, 2 de julho de 2010

A polítca e o Brasil na visão de um economista

Adorei esse texto, ele fala sobre muita coisa que concordo sobre o futuro político do Brasil.



SERRA PROPÕE UM CAMINHO PERVERSO PARA BRASIL E AMÉRICA LATINA

As declarações hostis ao Mercosul feitas por José Serra diante de empresários da Federação de Indústrias de Minas Gerais (FIEMG) deveriam ser tomadas como um sinal de alarme não só no Brasil, mas também na maior parte dos países da região. As declarações do candidato direitista aparecem como um velado convite ao suicídio do sistema industrial brasileiro que ficaria exposto à feroz concorrência de países desesperados por aumentar suas vendas.

Em relação às integrações periféricas, que apareceram como respostas às crescentes dificuldades das grandes economias centrais (EUA, União Européia e Japão), a proposta de Serra vai na contramão da tendência global. O que Serra propõe é um caminho perverso: sair do processo integrador periférico e, outra vez, submeter-se por completo às turbulências do mercado internacional sem nenhum tipo de escudo protetor regional, periférico ou trans-regional. Desse modo, o Brasil passaria a ser parte da estratégia de recomposição comercial e geopolítica dos EUA, onde um dos capítulos decisivos é a desestruturação das integrações periféricas na Eurásia e na América Latina.

Serra propõe substituir o Mercosul e as demais alianças periféricas (Unasul, BRIC e todas as outras) por um conjunto de tratados de livre comércio. A retirada política do Brasil significaria automaticamente um decisivo aumento da influência dos EUA na América Latina, sob todos os pontos de vista, abrindo o caminho para suas estratégias de desestabilização e reconquista. Lula nos livrou da Alca, Serra quer nos acorrentar ao interesses americanos.

No esquema Serra - sem a rede protetora de aproximações e acordos políticos e econômicos - o Brasil teria um único caminho para prosseguir em seu desenvolvimento comercial: o da competição selvagem respaldada por salários e impostos reduzidos. Ou seja, apoiada na miséria crescente do grosso de sua população (começando pelos assalariados e seguindo pelas classes média e mais baixas, como ocorria nos governos anteriores a Lula), em um Estado frágil e incapaz e, inevitavelmente, na expansão das estruturas repressivas destinadas a manter a ordem social e política. Em resumo, na deterioração acelerada das liberdades democráticas. Como vemos - e como já vimos há bem pouco tempo -, esse processo começa com um otimista discurso comercial e culmina, necessariamente, em um modelo político vil e claramente autoritário.

Serra é parte do leque de políticos latinoamericanos de raiz neoliberal, nostálgicos das velhas relações neocoloniais com o Império americano. Esses dirigentes, superados pelas tendências integradoras e autonomizantes surgidas na periferia do Primeiro Mundo - especialmente nas nações emergentes -, entrelançaram-se em nome da própria e deseperada sobrevivência. Mas o tempo joga contra eles e a realidade vai lhes escapando. O velho senhor que desejam voltar a servir está enredado em seus próprios e muito graves problemas, o que o torna cada vez mais irracional. Na prática, há um aumento da irracionalidade nos sistemas de poder dos centros decadentes. É imperativo que não permitamos a contaminação dos países periféricos que, racionalmente, souberam encontrar seus próprios caminhos.

JORGE BEINSTEIN
economista e professor na Universidade de Buenos Aires