domingo, 10 de janeiro de 2010

Histórias de família - O menino e a professora

Vou começar a postar as histórias da família que chegaram até mim, quem sabe um dia eu transforme em um livro.
O menino e a professora

Honório nasceu em 1923, no povoado Mata de São José, município de Maruim, Sergipe, numa família que vivia do campo. Por volta dos cinco anos o menino sentiu uma dor forte na cabeça, um derrame o deixou acamado, mas não demorou muito tempo ele se recuperou, saiu da Mata e foi viver com a avó na cidade. Não podia ser contrariado, a família acreditava que isso podia agravar seus problemas, Dodó, como era conhecido, escasquetou que queria estudar, e passou a insistir e derrubar os argumentos da avó sobre a sua saúde.

Aos oito anos lá ia o menino todo contente para a escola. Aos onze, encontrou Dona Inês, professora rígida dos tempos de antigamente, tinha uma palmatória daquelas de dar inveja a muito torturador da década de 1960, mas isso não intimidou o menino Dodó, que se apaixonou pela professora. Estudava com afinco e se aplicava cada vez mais para apreender a matéria, mas a professora não dava fé da sua existência queria saber do conteúdo. Minha avó falou que a professora tinha uma mão pesada. Como o estudo era menos valorizado que o trabalho naquela época, quando terminou o primário (atual quinto ano) os pais do menino decidiram que havia chegado a hora de parar de estudar e começar a trabalhar. Trabalhou na terra, na estiva, veio para a capital, mas, Dodó não tirava a professora da cabeça. Aos vinte e dois anos, após um grave acidente de trem, ele decidiu que era chegada a hora de voltar ao seu lugar e lá chegando encontrou sua querida professora, ainda solteira.

Casaram-se cerca de um ano mais tarde, tiveram apenas um filho, que morreu, da doença que acometera seu pai na infância. Um derrame levou o filho de Honório com apenas trinta e três anos de idade, ele deixou três filhos. Logo depois, D. Inês caiu doente e Dodó cuidou do seu grande amor até o último momento. Após a morte da esposa ele voltou para o interior, passou por lá alguns anos quando leu muito a Bíblia, quando foi chamado pela nora para ajudar com as crianças. Voltou a capital e passou a auxiliar na educação dos netos e a vender bananas no mercado central. E como foi difícil!

Os garotos estudavam e queriam saber sobre História e geografia, o avô encabulou-se e passou a valorizar a primeira coisa que apreendeu com a esposa, e o homem rústico que estudara até a quarta série dedicou-se com afinco à história e à geografia. Estudou a União Ibérica e a História do Brasil, além de geografia do brasil e passou a decorar dados que ele via em Atlas. As pessoas passaram a se interessar por aquele vendedor de bananas que buscava tanto o saber, vez ou outra passavam por lá estudantes que sentavam e passavam horas conversando com ele.

O mais interessante é que Dodó passou a dedicar a vida aos netos e ao estudo, não amou mais ninguém. Achei a história legal e fiz um documentário sobre ele pra faculdade em 2006, a profesora selecionou e passou na rádio, foi legal o pessoal da feira onde ele trabalhou mais de trinta anos ligando pra falar do homem simples que sonhava em ter um terreninho na mata pra terminar seus dias, não foi possível, ele morreu um ano depois.